Uma colega de trabalho diz: “Carol, preciso te mostrar uma coisa, usei seus argumentos na discussão de ontem à noite num aniversário de uma amiga.” Era o vídeo do “Troco” no qual a professora dançava a música “Toda enfiado”. Isso faz quase um mês e agora vem a tona toda a polêmica em torno da dança e a repercussão que o vídeo no You Tube causou na vida desta mulher.
Qual é o problema dela dançar daquele jeito? É o fato de ser professora de educação infantil ou ser uma mulher que se utilizou explicitamente da sexualidade?
A linha de raciocínio e a argumentação que as pessoas utilizam e justificam a punição/coação do comportamento da professora são falhos por que tratam da mesma forma a mulher. Como um agente cultural subjugado unicamente a estruturação social, as questões individuais de escolha tem ou deveriam estar condicionadas àquilo que a sociedade espera dela (mulher).
E o que é que a sociedade espera de uma mulher? Os machistas esperam que sejam dóceis, subservientes, moralistas, contidas sexualmente, emotivas, “difíceis” (aos avanços masculinos); umas correntes feministas esperam que seja politizadas, masculinizadas e dessexualizadas; outras correntes conseguem perceber a mulher como um ser sexual.
Então por que causou tanta polêmica esse vídeo no YouTube?
Segue alguns dos argumentos dos quais ouvi:
1 – “Mas ela é uma professora de educação infantil.”
Pergunto: Ela dançou na sala de aula? Dançou pra crianças ou estava ensinando-as a dançar?
2 – “Não sei onde vai parar, daqui a pouco o povo vai trepar no palco e será permitido por que é uma dança.”
Pergunto: desde quando ritmos e danças sexuais são privilegio do século XXI ou se restringe a ritmos como o pagode baiano e o funk carioca?
Pare para observar um pouco mais: todas as danças remetem ao sexo. Perceba a movimentação dos quadris no forró (tão dançado), até mesmo na valsa, no bolero, no samba de gafieira, zouk, lambada e etc...
A grande infelicidade desta jovem foi fazer isso num momento em que ter celular com câmera e disponibilizar conteúdo na internet virou febre. Contudo, percebo na forma como esta se colocando o quanto está sendo coagida, tanto que se mudou do bairro e fez acordo com a escola, deixando o trabalho e tirando a filha de lá.
Gostaria que ela tivesse consciência da sexualidade e do emponderamento que é ser dona do seu corpo e usufruir da melhor forma que lhe convier. Ou seja, não cabe a mim ou a qualquer outra pessoa julgar o fato dela dançar semi-nua no palco, mesmo que esta dança tenha um “q” de sexual, cabe a ela sentir-se bem com isso e não coagi-la a ponto de justificar-se de que não estava no seu estado normal. Por que uma mulher não pode quer exibir seu corpo, qual o problema disso? E por que isso causa demissão? A vida pessoal não interferia no seu trabalho.
E se fosse homem? Será que teria chegado a gerar essa polêmica?
Fico por aqui com estes questionamentos.