Terminar
um livro é como o fim de um relacionamento, seja ele amoroso/sexual
ou amoroso/fraternal. Você pode reconstruir no pensamento tudo o que
viveu no passado mas não saberá o que estaria sendo; o presente, as
descobertas, o desenrolar da história.
Nesta
manhã preguiçosa de segunda-feira estou vivendo aquele luto pelo
fim da história/relação. Já sinto uma falta cortante de Ifemelu,
como sentiria eu falta de mim mesma – caso me fosse negada essa
convivência – ou uma grande amiga que os caminhos da vida levaram
para longe e que caminhou para um contato raro e frio. Ela, Ifemelu,
me fez reviver algumas passagens de minha vida que me pareceram
similares aos seus, como o banzo provocado pela distância das suas
raízes – mesmo que minha distância de “casa” seja
infinitamente menor.
Me
vi festiva torcendo pelo seu sucesso no seu retorno à Lagos, o
(re)encontro com as coisas que lhe são importantes, que lhe movem,
que lhe afetam.
A
minha sensação é que Chimamanda é minha amiga que está deitada
no chão da sala ao meu lado enquanto conta coisas da sua vida; que
vai da gargalhada ao choro a depender de que parte me conta da sua
história. A imagem genuína de cumplicidade.
Escrevendo
isso eu sinto que jamais conseguirei transformar em linguagem escrita
o que ela me proporcionou nesses dias. Da riqueza desse livro,
inclusive culturalmente falando, pela viagens continentais ao
retratar três países tão diferentes que nem mesmo a língua é
capaz de criar uma espécie de confluência.
Para
mim ele se tornará tema único nas próximas semanas. Só serei
capaz de viver a partir da sua perspectiva. Nem sei como farei para
conseguir trabalhar minimamente.
Quando
comecei a fazer os percursos de leitura foi numa tentativa de trazer
os pontos de maior relevância que encontrei no decorrer da leitura.
Hoje não me sinto capaz de dar o devido valor aos inúmeros temas
importantes e fundamentais para construir a história. Talvez outro
dia, talvez numa próxima leitura. Ao fim, quando a cortina desce,
fica a facilidade de ser tomada só pela emoção e de mergulhar
naquilo sem se dar conta de como cada fala me afetou. Depois que a
emoção vai baixando, vai se tornando mais distante, a linguagem
consegue se manifestar e traçar uma linha elencando os fatos, neste
caso: os pontos de tensão da história.
Fico
hoje com a emoção transbordando. Cheia dessa poesia cotidiana, esse
olhar atento para a beleza. E com uma imensa gratidão à literatura
por não me deixar ser levada pelo cotidiano sem reflexão,
embrutecida sem conseguir enxergar a beleza, sem conseguir me comover
diante da brutalidade do mundo. Porque nos faz exercitar o nosso
estado de empatia, de viver a vida de outras pessoas com diferentes
roupagens de classe, de raça, de nacionalidade, etc.